quarta-feira, 20 de março de 2013

Quem Quer Viver Pra Sempre?!? EU!!!


Outra noite, lá pelo terceiro copo de B&W trocando abobrinhas com um dos “Anexados” - porra, lá vai explicação:
“Anexados” foi o termo adotado lá em casa para denominar o grau de relacionamento doméstico de alguns amigos mais jovens que, além de nos honrar com fidelidade, disponibilidade, atenção, respeito, admiração, ainda nutrem uma certa ânsia de conhecimentos a qual procuram saciar, como se simbiose possível, com a minha companhia e podem estar presentes a qualquer hora, em qualquer lugar.
Como eles sempre amadurecem, vão-se compor seus próprios clãs. Novos se incorporam. Já orientei gerações. Convivi com um avô, lecionei ao seu filho, teclo com a neta que está grávida. Tem gente que os chama de "Aprendizes de Feiticeiro".

Vamos lá, de novo: Outra noite, lá pelo terceiro copo de B&W trocando abobrinhas com alguns dos “Anexados”, descompromissadamente, brincando na web, vem à baila a Morte. Um comentário me chamou a atenção. Foi uma pergunta, mas tão intencionalmente demonstrativa que senti como comentário provocativo.
Eles fazem isso, só pra me ouvir polemizar. E depois me sacaneiam dizendo que sou chato, quero ser o dono da verdade, que penso que sei tudo. E daqui a pouco já tem um puxando o saco, outra quer uma força, como é que eu vou saber se calcinha amarela dá mais sorte que azul-bebê?

“É foda… O cara tem tudo, tá de cima, novão, viajado, solteiro, esperto, o picas, bate o carro e morre. Acabou. Em poucos anos é como se não tivesse existido. Pra que é que gente serve, virar comida de vermes no final?”
Não deu tempo nem da língua coçar. Quando ele disse “Acabou” meu sangue ferveu, adrenalinalizei, e despertei para a realidade de ser infinito. Aí comecei:
“Nem todo mundo acaba. Pra você a morte acaba tudo? Então, pra mim, eu sou imortal. Nunca vou acabar. Então, quer dizer que nunca vou morrer?”

Levantei, retirei-me da sala, trouxe água pra galera e intimei:
 - E aí, eu nunca vou desaparecer. Então, vou morrer ou não?

 “Ô Zé, na sua história, o cara tinha tudo. O que é ter tudo? Muito dinheiro, poder, comando, domínio, terras? E o que se faz pela vida, conta? Se o cara atrasa o aluguel de vez em quando, vive apertado, será menos digno de pena quando morrer?”

Deixa as respostas pra lá, a gente fala nelas se precisar encher linguiça por aí. Continuando. A questão passou a girar sobre eu acreditar ser imortal.

Sem partir pra Ética, Filosofia ou Religião, eu nunca vou desaparecer porque minhas palavras estão impressas e publicadas. No papel e na Internet. Uma geração desenvolvidíssima de um hoje ainda em início de construção com certeza irá aplicar meus conhecimentos e legados para entender o momento da nossa presença neste espaço. As minhas mensagens serão a mídia da minha essência, como hoje o é a carne.

Para unir enquanto necessária união se faça do pensamento e ideias com a carne, mesmo após esse pedaço de corpo que envelhece perecer, não será alimento de vermes. Continuarei materialmente vivo no corpo dos quantos puder meus órgãos doar. O lixo, creme-se. Cinzas ao mar. Quero funeral, enterro, não. Festas, homenagens, discursos, recitais, publicação de inéditos, reedições, registros biográficos multimídia, tudo que tiver direito, façam por mim. E repitam, transformem em evento periódico. Assim estarei vivo e atuante.
E ainda continuarei vivo na minha descendência. Já estou multiplicado, aliás, desmultiplicado. Meu DNA já se espalha mundo afora. Um filho é você, que você separa de si e prepara para fazer melhor que você mesmo. Um neto é você já se separando do você separado anteriormente, para mais hojes poder desfrutar. E esses aí, que já existem, com certeza vão ler e entender e divulgar meus princípios que lhe serão polidos pessoalmente ainda por mim. E os netos deles serão mais outros a me eternizar.

Não sou Deus, mas sou imortal.

Publicado originalmente em:"Pra passar o tempo".
livro impresso de Eugênio Ramos Poeta.